faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A morte da adolescência - 2

A Júlia, nas passagens, nos percursos da sua “ginástica” de marcha com baldes cheios de água em cada mão, não escondia os sorrisos de troça, e o seu corpo parecia ganhar ainda mais vida e saúde.

E fazia com que uns salpicos de água saltassem dos baldes para as minhas costas, perturbando as insistências (insiste!, insiste!) das flexões de braços.

A aparente indiferença mútua era disfarce. Era mútuo desafio e era provocação, só insinuados mas cúmplices.

Aquele seu corpo, o modo como o vivia, como o fazia movimentar-se, bulia comigo, nos meus 17 anos.

E quantos teria ela? Tantos como eu, ou um pouco menos, ou um pouco mais, até porque o corpo feito mulher por vezes se escondia para logo se revelar, numa gaiatice, numa vontade de brincar em que havia uma criança a recuperar a infância não vivida.

Mas também não valia a pena perguntar quantos eram os seus anos de vida. Talvez nem soubesse ao certo, ou propositadamente respondia com evasivas “sei lá… parece que vou nos dezoito, já sou grandita… mas não vou às” sortes”… isso da tropa é p’rós rapazes… eles é que têm de saber a idade que têm”.

A vida fizera dela, depressa, muito depressa, uma mulher para quem a idade não contava. Parecendo vender saúde e força, era uma bela mulher. A meus olhos, pelo menos.

E era para ela que eu me exibia. Como para mim próprio, quando olhava os músculos em pose nos vidros das janelas. De soslaio. Com alguma auto-satisfação.

3 comentários:

Maria disse...

Este João Luís já a sabe toda... e só com 17 aninhos...
... e como a Júlia também não é parva nenhuma, vamos aguardar o próximo episódio, pois então.

Anónimo disse...

Isto continua a prometer...

GR disse...

A idade da inocência (hoje, já não)!
A idade das paixões, dos amores e das contradições!
Vamos lá ver como se comporta o “menino”!

GR