Era simpático… e engraçado.
E foi, digamos, geracional. Porque começou a ser menos assim. Ou porque os camaradas passaram de pais a avós, e os quartos perderam aquele ambiente de abandono temporário que eu preenchia por uma noite de colóquio ou outra iniciativa partidária ou da CDU; ou porque, sendo os responsáveis cada vez mais novos, as casas diminuíram de tamanho e deixou de haver um quarto livre ainda que com dona temporariamente ausente, ou arranjaram outras soluções; ou porque me deu para, de vez em quando, dizer que não era preciso alojamento porque desejava, depois da seesão de trabalho, repousar à minha vontade, sozinho e sem cuidados, num quartinho de hotel.
Ontem, em Braga, lembrei-me desse tempo. Não tanto por me terem aboletado em casa de um camarada que foi inexcedível em atenções - num quarto sem bonecas... mas "cor de rosa" -, mas por ter tido, antes da sessão, uma surpresa que me apetece contar.
No café Brasileira, ainda no piso térreo em que bebia um chá para acamar o excelente jantar com um camarada “dos antigos”, antes do Marx e de O Capital e dessas coisas, aproximou-se da nossa mesa um casal, com todo o ar de pai e filha. A cara dele era-me familiar, vinha cumprimentar-me e lembrar-me que, há uns vinte anos, dormira em casa dele, no quarto daquela filha que o acompanhava. E esta, ali com ele, uma jovem e muito bonita mulher, disse-me que nunca esquecera que eu lhe deixara um bilhetinho no quarto a agradecer-lhe o ter-me cedido o quarto dela. Teria então 6 ou menos, e hoje é uma senhora doutora, enfermeira, e está a tirar um outro curso de gestão.
Se ela denotava algumas ternura e emoção, eu não as tinha menores, e trouxe-as para o regresso a casa e para este escrito.
Obrigado, Adelaide! (e também, camarada, pela tua contribuição, depois, para o debate).
2 comentários:
Está enternecedora e bem contada a história, e o desenho é um encanto!
Um post lindíssimo, cheio de ternura e sentimento.
Lembrei-me das vezes que dormi em casas de camaradas e das muitas vezes que dormem na minha. São momentos que não se esquecem, de tanta alegria.
Adoravel o desenho.
Como gostei de te ler.
Bjs,
GR
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