faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Obrigado, Adelaide!

Aqui há uns anos, bem uns vinte, houve um período (ou períodos… eleitorais ou não) em que, nas minhas digressões militantes pelo País, os camaradas me davam guarida em suas casas e calhava-me dormir nos quartos dos filhos ou filhas que estudavam por outras terras ou, mais novitos, iam dormir para outros lados. Muitas vezes dormi rodeado de bonecas, algumas à espera da vinda das suas meninas em fim-de-semana ou a férias.
Era simpático… e engraçado.

E foi, digamos, geracional. Porque começou a ser menos assim. Ou porque os camaradas passaram de pais a avós, e os quartos perderam aquele ambiente de abandono temporário que eu preenchia por uma noite de colóquio ou outra iniciativa partidária ou da CDU; ou porque, sendo os responsáveis cada vez mais novos, as casas diminuíram de tamanho e deixou de haver um quarto livre ainda que com dona temporariamente ausente, ou arranjaram outras soluções; ou porque me deu para, de vez em quando, dizer que não era preciso alojamento porque desejava, depois da seesão de trabalho, repousar à minha vontade, sozinho e sem cuidados, num quartinho de hotel.
Ontem, em Braga, lembrei-me desse tempo. Não tanto por me terem aboletado em casa de um camarada que foi inexcedível em atenções - num quarto sem bonecas... mas "cor de rosa" -, mas por ter tido, antes da sessão, uma surpresa que me apetece contar.
No café Brasileira, ainda no piso térreo em que bebia um chá para acamar o excelente jantar com um camarada “dos antigos”, antes do Marx e de O Capital e dessas coisas, aproximou-se da nossa mesa um casal, com todo o ar de pai e filha. A cara dele era-me familiar, vinha cumprimentar-me e lembrar-me que, há uns vinte anos, dormira em casa dele, no quarto daquela filha que o acompanhava. E esta, ali com ele, uma jovem e muito bonita mulher, disse-me que nunca esquecera que eu lhe deixara um bilhetinho no quarto a agradecer-lhe o ter-me cedido o quarto dela. Teria então 6 ou menos, e hoje é uma senhora doutora, enfermeira, e está a tirar um outro curso de gestão.
Se ela denotava algumas ternura e emoção, eu não as tinha menores, e trouxe-as para o regresso a casa e para este escrito.
Obrigado, Adelaide! (e também, camarada, pela tua contribuição, depois, para o debate).

2 comentários:

Justine disse...

Está enternecedora e bem contada a história, e o desenho é um encanto!

GR disse...

Um post lindíssimo, cheio de ternura e sentimento.
Lembrei-me das vezes que dormi em casas de camaradas e das muitas vezes que dormem na minha. São momentos que não se esquecem, de tanta alegria.
Adoravel o desenho.
Como gostei de te ler.

Bjs,

GR