faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

sábado, 3 de janeiro de 2009

Avulsos do Caderno Vietnam - 1

Hanoi (e não só!)

Já tínhamos visto da janela da carrinha, ao atravessar a cidade em busca nossos destinos. O trânsito numa representação do caos organizado. Como que encenado por um génio da movimentação em cena, ou sob a batuta invisível de um maestro que nenhum von Karajan igualaria. Absoltamente indescritível.
O guia tinha proposto uma visita ao “coração da cidade”, uma passagem por aquele turbilhão de bicicletas, de motorizadas, de vespas, de lambrettas, de hondas, de gente de todas as idades e coisas de todos os tamanhos em gincanas de duas rodas com alguns carros pelo meio a dificultarem as provas. Ou a darem-lhes algum sentido ou direcção porque “mão”, “contra-mão”, prioridades, são figuras de pura retórica do eventual código das estradas e ruas daquela(s) cidade(s) infestada(s) de pequenos veículos motorizados a meterem-se por todos os lados, como piolhos em costura.
E a proposta incluía o metermo-nos em “ric-chós” e deixarmo-nos conduzir. Qual quê?! A gente queria era ir a pé, a pezinho, para o meio da turba-malta. O gajo-guia olhou-nos de lado. Logo houve quem desconfiasse que havia ali comissões para os ricos primos dos “ric-chós”. E que nos iria boicotar o passeio.
Afinal, não boicotou nada e, com paciência asiática, serviu-nos de guia e salva-vidas naquela travessia. Indescritível.
A tirar fotografias, pois então!
De repente, perco-lhe o contacto, sinto-a atrasada.
Chegado eu, são e salvo, a um passeio (pouco seguros, pouco seguros), procurei-a com os olhos.
Quase assustado. Mas vejo-a. Parecia bem. Decidida, como sempre, segura de si e do que trazia na mão. A máquina de fotografar, claro.
Descansado – mais ou menos –, preparo a minha para a apanhar em flagrante de atravessar a rua. Na faixa de rodagem desenhada no pavimento, note-se bem.
Procurei o momento crucial. Iria ser o grande flagrante. A gincana pedestre na gincana a duas rodas.
A identificá-la, ficou o cabelo branco, os óculos escuros.

4 comentários:

GR disse...

Confusão total!
Ainda hoje estaria do outro lado da rua, esperando poder atravessá-la. Mas adoro ver a "confusão" de muita gente.
O guia tinha razão, a deslocação num ric-chó, seria bem mais fácil, assim foi mais uma aventura.

Boa foto!

GR

samuel disse...

O "timing" é tudo... :-)))

Maria disse...

Nem percebo muito bem a foto... parece uma montagem...
Mas uma viagem assim faz-se uma vez na vida, e há que tirar partido de tudo o que pode ser aventura...

Abreijos

Justine disse...

Acreditem que é mesmo assustador...
Atravessar uma rua de uma qualquer cidade no Vietname É uma aventura exaltante:))