faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

"Com uma imensa alegria"

Como todas as manhãs.

Como todas as manhãs, aqui me sento. Esperando o acordar da vida. E das memórias. Da lembrança do escrito de ontem. Irresistível. Sobre esta pedra–mãe. Vista do outro lado.
Mas é daqui, aqui sentado, que mais vezes a vejo. Tantas e tantas vezes – quase sempre… – sem a ver. Como se fizesse parte de mim. Do que fui. Do que sou.
Teve por companhia tábuas de solho, que com ela casavam, agora são quadrados de tijoleira que se ajustam aos seus irregulares contornos.

Sempre se saiu da Casa pisando esta pedra, soleira de todas as portas. No começo de tudo, com serventia para os currais e para o forno, com pés descalços afagando-a, fazendo-a assim, macia e acolhedora, ou com botas cardadas, agredindo-a sem que ela se queixasse. Agora, ali está, a ser Casa, no seu terceiro século. Vivendo connosco a nossa passagem por aqui.

Levanto os olhos.
É ao atirar a vista e o pensamento pelos verdes lá de fora que eles, os olhos e a memória vivida, se prendem a esta pedra.

Esta é a pedra, o assentamento de tudo que é esta Casa.

8 comentários:

Justine disse...

Será então com uma imensa alegria!

Anónimo disse...

Também poderia ser chamada, digo eu, pedra filosofal. E com toda a razão de ser.

Campanica

Sérgio Ribeiro disse...

Essa é outra! Depois mostro-a...

samuel disse...

Quando as pessoas que as habitam são assim... as pedras também. Fundamentais, feridas, macias, cheias de histórias e História... como só algumas pessoas (e pedras) que sofreram, sabem ser.

Maria disse...

Esta questão dos afectos é tão complicada....
... o amor a uma pedra, embora pedra-mãe, e tudo o que se vê a partir dessa pedra, para fora da casa...
Até eu fico comovida, Sérgio...
Olha que raio, o que havia de me dar...

cristal disse...

Só hoje posso dizer (eu também) como me enterneceram este post e o anterior. Não sei explicar porquê mas, também para mim, essa pedra é uma parte essencial dessa casa. Gosto de me sentar nela e de a sentir com as mãos e com os pés nus. Nunca me tinha sido apresentada como pedra-mãe mas agora que lhe sei o nome já faz mais sentido o que ela me faz sentir. Saudades

Rosa dos Ventos disse...

A soleira da porta da casa dos avós conta estórias de encantar...

Abraço

M. disse...

Tão bonito o que aqui dizes!