faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Papéis velhos...

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A Cabo-Verde,
aos caboverdeanos

No fundo de umas calças velhas rotas encontrei uma pequena lâmina. Daquelas que servem para fazer barbas nas manhãs endorminhadas. Mas esta não. Esta é uma lâmina suja de terra e que guarda um cheiro lembrança a flor e fruto.
Do fundo de umas calças velhas rotas veio esta ferrugenta lâmina lembrança de vida e de convívio em manhã folga de cooperante da cooperação de todos os dias. Uma lâmina ferrugenta que cortou plástico negro invólucro de raízes de árvores a plantar e fazer crescer. Para chamarem a chuva que – disseram-me – ainda este ano não veio.
Em mim desceram mais fundo as raízes da vontade de ser útil. De dar préstimo a esta lâmina ferrugenta e terra e árvores para trazerem chuva onde se vive seca, e as secas são memória e foram fome e fomes.
No bolso deste meu casaco de trazer pelas Lisboas e Europas guardo uma lâmina insólita, ferrugenta e terra e árvores para nascerem e serem esperança de chuva.

22.03.1982
(há quase 29 anos!)

4 comentários:

Maria disse...

Dizer-te que saio daqui comovida é pouco...
Vê lá se encontras mais "papéis velhos" e se os publicas aqui..

Até amanhã
Abreijos

(há quase 27 anos, Sérgio!)

Sérgio Ribeiro disse...

Tens razão, Maria. Não me chegavam 27 anos!
Alguns comentários ´´e que me comovem.
'Inté amanhã
Beijo

Justine disse...

Sôdade!! E éramos tão novinhos...
O texto está muito, muito belo, não merecia ficar no barracão:))

cristal disse...

Pois! O texto e a fotografia e as lembranças... a as árvores que cresceram! Cabo Verde está mesmo muito mais verde e algumas daquelas árvores fomos nós que as plantámos! E,talvez por isso também, as que eram as nossas crianças naquela época, ficam sempre com o brilhozinho especial nos olhos quando recordam Cabo Verde.