I
Nasceu nos idos anos 40,
numa aldeia deste País.
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Cresceu de pé descalço e ranho no nariz,
guardou gado,
levou a merenda ao pai
à jorna lá no cimo do monte,
usou enxada e machada,
andou à lenha e foi à fonte;
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fez fisgas com elásticos inventados,
atirou pedras a pássaros,
“armou costelas”,
chutou bolas de trapo e bexigas de porco;
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foi à escola, que nem escola era mas um posto escolar,
que Salazar dizia e mandava que
para ensinar a ler, escrever e contar
bastava saber ler, escrever e contar;
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trabalhou à jorna,
de sol a sol, de chuva a chuva,
do cantar do galo às “ave-marias”
abriu poços, levantou muros,
pisou uvas, enxertou árvores,
semeou muito, colheu pouco;
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correu as festas e as feiras,
descobriu-se na descoberta das cachopas,
com algumas se deitou nos palheiros,
entre espigas e barbas de milho;
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do mundo para além da vila
não sabia de cidades
e de outras terras e notícias;
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de guerras, ouvira a história do avô
que viera gaseado das franças
e a do avô do vizinho e amigo
que decepara o dedo de dar ao gatilho,
e assim “se livrara”,
e a de outro que fora amparo de mãe e sustento de filho;
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"foi às sortes", ficou apurado para soldado,
condenado a ir para África matar e morrer.
Ainda fez a festa com os “do ano”,
com os nascidos 20 anos antes,
mas outra vida queria ter.
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E uma vida nova, outra, tinha de começar.
2 comentários:
Em jeito de literatura de cordel, um começo promissor:)))
Gostei muito de ler.
Narras a dura vida de muitos jovens de aldeias pobres e distantes.
Para muitos, a nova vida com futuro começou!
Bjs,
GR
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