(Desde 25 de Dezembro não venho aqui contar estórias. A última escrevi-a em Ho Chi Minh ville, e estava eu, na estória contada, na sala dos operados, no Aljube. Fazem-me falta. Por isso, a elas volto).
Havia uma porta a separar a “sala dos operados” da “enfermaria geral”, no último piso do Aljube. Eu, estando em trânsito para Caxias, transitara da segunda para a primeira, por troca com o Custódio Maldonado, que para Caxias não iria.
Na "enfermaria geral" tinham ficado os companheiros que lá deixei, e logo outros vieram juntar-se. Entre outros, gente hoje famosa, das artes. E o Herberto! Com quem eu tinha uma enorme necessidade de contactar.
Na porta que separava as duas salas havia uma fechadura, de que estava cuidadosamente tapado o buraco da fechadura, decerto por um marceneiro. Mas, na madeira, fomos fazendo, pouco a pouco e dos dois lados, um orifício por onde pudesse passar o papel-alumínio dos maços de tabaco, muito bem enrolado. Assim, começaram a circular mensagens entre as duas salas.
O certo é que o buraco começou alargar-se. Para que as mensagens passassem com maior facilidade e, às tantas, começámos a poder espreitar-nos.
E não me esqueço de, numa bela tarde, termos recebido uma mensagem “do outro lado”, em que se dizia “vamos fazer uma foto de família… espreitem”. Assim fizemos. E, enquanto um deles e um de nós estavam de vigilância ao guarda – que, por vezes, era só o servente –, espreitámos pelo buraquito e vimos… os camaradas em pose, como se estivessem arrumados para uma fotografia.
Ainda estávamos a usufruir do gozo que aquela diversão nos provocara, quando recebemos um canudinho de papel-alumínio, vindo do outro lado, com uma intimação: “Então… e vocês daí?!, não pousam para nós?”.
Claro que sim. Ajeitámo-nos, muito arrumadinhos, e… tiraram-nos a “fotografia”.
Havia uma porta a separar a “sala dos operados” da “enfermaria geral”, no último piso do Aljube. Eu, estando em trânsito para Caxias, transitara da segunda para a primeira, por troca com o Custódio Maldonado, que para Caxias não iria.
Na "enfermaria geral" tinham ficado os companheiros que lá deixei, e logo outros vieram juntar-se. Entre outros, gente hoje famosa, das artes. E o Herberto! Com quem eu tinha uma enorme necessidade de contactar.
Na porta que separava as duas salas havia uma fechadura, de que estava cuidadosamente tapado o buraco da fechadura, decerto por um marceneiro. Mas, na madeira, fomos fazendo, pouco a pouco e dos dois lados, um orifício por onde pudesse passar o papel-alumínio dos maços de tabaco, muito bem enrolado. Assim, começaram a circular mensagens entre as duas salas.
O certo é que o buraco começou alargar-se. Para que as mensagens passassem com maior facilidade e, às tantas, começámos a poder espreitar-nos.
E não me esqueço de, numa bela tarde, termos recebido uma mensagem “do outro lado”, em que se dizia “vamos fazer uma foto de família… espreitem”. Assim fizemos. E, enquanto um deles e um de nós estavam de vigilância ao guarda – que, por vezes, era só o servente –, espreitámos pelo buraquito e vimos… os camaradas em pose, como se estivessem arrumados para uma fotografia.
Ainda estávamos a usufruir do gozo que aquela diversão nos provocara, quando recebemos um canudinho de papel-alumínio, vindo do outro lado, com uma intimação: “Então… e vocês daí?!, não pousam para nós?”.
Claro que sim. Ajeitámo-nos, muito arrumadinhos, e… tiraram-nos a “fotografia”.
2 comentários:
A capacidade de, em situações tão duras, serem capazes de criar momentos de bom humor, impressiona-me e comove-me. Atrevo-me a dizer que era, também, uma forma de resistência.
Campaniça
a cumplicidade e (porque não) alguma ternura naquelas celas frias...
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