Ontem, foi o Benfica, com toda a histeria dos festejos da vitória (que continuaram por hoje), e a violenta contra-manifestação no Porto, e mais a violenta contra-contra manifestação policial, que me levaram à escrita de uma estória de desporto.
Hoje, entre a visita de ex-ministros das finanças a um dos seus e a visita de Bento XVI à nossa terra e o anúncio (ou só aviso-ameaça?) do aumento do IVA e os 24 que vão à África do Sul dobrar o Cabo da Boa Esperança, ainda sobrou tempo de informação mediática para nos darem pormenores sobre o estado de saúde de um senhor Juan Carlos, ao que dizem rei de Espanha, e foi esta parte do noticiário que me lembrou um outra estória. Fidalga.
Aí vai ela (não terá sido exactamente assim., mas trata-se de ficção... do cordel):
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O meu pai tinha um viciozito, sim, não chegava a ser vício. Era o viciozito da jogatina. Nada de muito grave, mas suficientemente grave para perturbar o ambiente familiar. Porque as sessões de jogo muitas vezes se prolongavam pela noite e madrugada dentro a entrar na manhã, o que não era nada agradável para a minha mãe (nem para mim, à medida que me ia apercebendo), mas também descobria nela alguma resignação (diria, sob protesto...) feminina. Se calhar, isto é um suponhamos..., a minha mãe preferia que ele "perdesse a noite", sabendo ela onde ele a tinha perdido, do que ele viesse para casa a horas mais apropriadas sem ela saber de onde ele vinha, ou não querendo saber, ou procurando saber através de algum vestígio na roupa ou no odor. No do meu pai, era só tabaco, porque nesse tempo se fumava... mas só os homenes, e então à mesa com pano verde era grande o consumo.
Bom, eram assim aqueles tempos...
Pois um dia, já comigo adolescente, nuns momentos de descontração, que não eram muito frequentes como parece quase nunca serem entre pais e filhos, ele contou-me uma estória me me veio agora à memória.
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- Queres que eu te conte uma coisa que me aconteceu, aqui há tempos, há uns bons anitos, no Ateneu Comercial de Lisboa?
- Sou todo ouvidos...
- ... estávamos a formar uma mesa de jogo com os parceiros habituais...
- Mas não é na Casa do Alentejo que tu vais jogar?
- Agora é... mas nesse tempo era no Ateneu e, como te tenho dito, sempre joguei e continuo a jogar comedidamente, nunca arrisco mais do que posso...
- Pois... mas...
- Já temos falado sobre isso... mas agora queria conta-te a história...
- Conta, conta...
- Estávamos a ver se formávamos uma mesa, e faltava dos nossos parceiros habituais. Então um dos nossos amigos, um fulano muito "da alta", lembrou-se de ter visto a jantar sózinho num restaurante da Rua Jardim do Regedor um seu conhecido com quem costumava fazer umas sessões de jogo, parece que em Cascais... era alguém dos meios do então rei de Espanha, por ali exilado, e perguntou-nos se veriamos inconveniente em o ir convidar... se ainda estivesse no restaurante, Claro que ninguém se opôs, apesar das regras apenas permitirem formar mesas com sócios... mas dada a necessidade e as credenciais...
- E então, ainda apanharam o gajo?
- Gajo?... essa vossa linguagem... Ainda por cima esse a quem tu chamas gajo estava no restaurante, aceitou o convite, era simpatiquíssimo e foi um excelente parceiro. Mas o engraçado da história não está aí.
- Sim, até agora não teve lá muita graça...
- Pois não. A graça está em que, quando o fulano chegou, todo pinoca, cheio de "nove horas", o nosso parceiro o apresentou como... duque de não sei quê, e sabes qual foi a minha reacção?
- Sei lá...
- Muito prazer, é a primeira vez que aperto a mão a um duque fora do baralho.
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Ri-me mesmo a sério, e ainda hoje rio.
3 comentários:
Excelente sentido de humor, o do teu pai. Já quanto aos hábitos....
Excelente história, cheia de humor requintado.
Gostei muito.
bjs,
GR
Bela história e que memória :)
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