faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Do conhecimento dos animais

Comecei por conhecer, dos animais, os cães e os gatos.
Um cão, com nome de Tarzan, foi meu companheiro de infância de filho único, foi membro da família, protegido e protector.
Aos gatos, via-os passar nos quintais das traseiras do velho bairro urbano ou às portas das carvoarias.
Também via pássaros cruzarem os ares. Andorinhas quando era tempo - e, então, ainda poucas das muitas vezes que já as reencontrei, ano a ano e tantos são -, pardais em todos os tempos e lugares. E nunca aprendi a distinguir outras, por mais lições que o menino da cidade tivesse tido do pai nascido na aldeia e que sabia identificar os piares, cores, nomes de todos os pássaros (arbéolas, cucos, ferreiros, melros, pintassilgos e pintarroxos, rouxinois, caracois e mais bichos mois). Nunca passei das andorinhas, dos pardais, dos pombos e, depois, das aves de rapina... todas iguais.
Ainda podia acrescentar, a essa descoberta do mundo animal, algumas visitas. As repetidas ao Jardim Zoológico e uma ao Aquário Vasco da Gama. Mas isso eram animais de um outro mundo. Não do meu.
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Assim foram escorrendo os anos. Aprendendo e desaprendendo, construindo mundos e neles me integrando.
Assim foi sendo até ter, dos mundos, um conhecimento (ou descoberta?) do mundo meu. Uno e múltiplo. Em que os homens também são bichos. Animais, quero eu dizer, uns bons, outros maus, os restantes assim-assim.
Teria havido tempo em que os animais falavam? Houve tempo em que acreditei que sim. Foi também das coisas que construi e desconstrui. Sei, hoje, que só o homem fala depois de ter tempos e tempos em que, sendo animal e pouco ser humano, não falou.
Do conhecimento dos animais soube, durante décadas e como se fosse ciência certa, que os cães comiam ossos e os gatos comiam espinhas. Dos restos das nossas refeições. E que os cães eram fieis e obedientes, os melhores amigos do homem, e que os gatos eram ladrões, ariscos, associais, pequenas e incorrigíveis feras.
As coisas que eu sabia! Ou as coisas que eu julgava saber!
Hoje, se em certas casas há cãezinhos que são companhia de senhoras idosas e sós que, para eles, fazem coletinhos de lã, nesta casa que é minha tenho um gato que é “gourmet” e que tem longas conversas com a que faz-de-dona (dele e minha), que aprendeu gatês com muita rapidez.
E também há cães vádios a roubarem o que lhes chegue ao dente e a vasculharem caixotes do lixo, e também há gatos que são abandonados e, em vez de voltarem à caça ancestral, pedem humana ajuda e abrigo e bom trato. Ele há tanta coisa. É a vida!
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Isto o mundo dá cada volta! Está sempre a dar…

3 comentários:

Maria disse...

Há casas onde ser-se gato é um privilégio...
Cumplicidade completa, na fotografia.
:)))

Justine disse...

Que estória bem contada!
(e estamos com novo "conhecimento" à perna, não é???)

GR disse...

Delícia de texto e de foto.
Mas o meu cão fala! e como tão bem nos entendemos!

Bjs,

GR