faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Histórias ante(s)passadas (na prisão) - 9A

Quando veio a ordem “arrume as suas coisas para mudar de sala”, senti que entrara noutra fase daquele período da minha vida. Depois dos “curros”, dos interrogatórios, da “enfermaria geral”, mudar de sala era a… estabilidade. Deixava a transitoriedade.
No entanto, a mudança foi pequena. Sai da sala grande e, no mesmo corredor, passei para um quarto ao lado, conhecido pela “sala dos operados”, pois era para onde iam os doentes depois de sujeitos a intervenção cirúrgica quando aquele andar era dependência hospitalar das prisões. Independentemente das implícitas conotações, a “sala dos operados” teria sido aquilo que, há pouco tempo, vim a conhecer como “sala de recobro”.

Os que iam para ali deviam ser os “seleccionados” para ir a julgamento. E estavam lá três. Num assarapantamento normal, entrei num espaço reduzido e já habitado por três “operados”.
Começámos pelas apresentações habituais, que iam muito para além das formais. Não nos conhecíamos, embora talvez os nossos nomes não fossem estranhos entre si.
Os nomes… Foi logo o primeiro quiproquó. Já lá vou…
Eu disse quem era, a profissão, que vinha ali do lado, num resumo resumidíssimo do resumo; depois (não sei se foi a ordem…), Viriato Camilo, desenhador de arquitectura, editor, cineclubista,; a seguir (teria sido?), Fernando Rodrigues, médico, tisiologista, IANT, um “senhor”; por último (talvez…) Álvaro Bulhão Pato de Maia Rebelo, engenheiro, grande, caloroso…
E veio o tal quiproquó. Inevitável. “Bulhão Pato?”. “Sim! era meu avô…”. “… o das amêijoas?”. Irritação: “… o poeta, o meu avô era poeta, as amêijoas foram uma graça …”. “Pois… mas são bem boas…”. Irritação: “… os versos são bem melhores…”. Timidez: “… não conheço… desculpe…”.
Não se pode dizer que tenhamos começado bem. Mas, depois, melhorámos muito. E o querido camarada Álvaro Maia Rebelo foi um bom companheiro e amigo naquela sala e em Caxias, para onde fomos transferidos mais tarde. E também cá fora, sempre grande, sempre caloroso.
.
Mas, sobre a “sala dos operados” há mais estórias.

4 comentários:

Justine disse...

Ah, o Bulhão Pato também escrevia???!!
:))

Anónimo disse...

P'ró neto?!
Vai ver ao google...

Maria disse...

é que vou mesmo ao google já a seguir, mas antes quero dizer que se a poesia for tão boa como as ameijoas... da nossa lagoa...

Maria disse...

Não tive muita sorte, mas vou insistir amanhã...