Diz um (o M) em maisangular (isto sem a devida autorização para transcrever...):
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M sentia-se pleno, cheio. De repente tão cheio que precisou de alguns minutos sentado naquele banco virado ao rio antes de olhar à sua volta. O mundo pareceu-lhe fora de si, tão estranhamente fora de si que quase não respirava. Não se mexia, sentia-se tão sensível e atento que o mais pequeno gesto o transtornava. Respirava devagar, sentiu o peito subir, tão cheio de vida que a muito custo segurou as lágrimas que o surpreenderam. Há muito, muito tempo que não chorava. Para dizer a verdade não consta que M tivesse alguma vez chorado. No dia em que nasceu a mãe chorou por ele. O médico quando o viu, pálido e sem reacção, considerou-o morto. Mas não estava, cresceu e depois de todos estes anos forçosamente vividos estava decidido a validar o diagnóstico do médico. Matar-se-ia com força e sem hesitações. Mas... Mas... caralhosefoda o mas! No momento em que o desgraçado suicida se acerca de tamanha resolução é abalroado por uma coisa tão pequena quanto fodida... uma pontada de vida. Uma filha da puta de uma pontada de vida. Se o médico o visse agora naquele banco virado ao rio, talvez dissesse.. o Sr está com uma pontada de vida aguda. É grave! Tenha cuidado, se não tomar as devidas precauções ainda acaba por gostar de cá andar. Tome soda caustica e vá a banhos. Atire-se de uma ponte, meta-se à frente de um comboio que isso passa-lhe. Mas cuidado, o caso é sério!
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Responde-lhe o outro, este de aqui, de antes de...:
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Boa, M!
Diria mesmo... muito boa, companheiro!
Uma pontada de vida?! Sofro disso há quase 73 anos... espero que seja incurável... até não ter cura!
2 comentários:
Toda a gente se cura..."isto acaba sempre mal!"
Não tenho muitas esperanças de cura para a tua pontada de vida Sérgio. Essa é das que entram por um homem dentro e cravam as unhas bem... bem... bem lá no fundo. E ainda bem que assim é(s).
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