Naquela sala – dos “operados” – a vida já estava organizada. E eu integrei-me bem. E depressa.
O Fernando Rodrigues era “um senhor”. Tisiologista de reconhecidíssima competência, era um homem muito afável, que se via que estava a sofrer, depois do que passara nos interrogatórios, Por muitas razões, até familiares. Dentro de si, um turbilhão sob a aparência calma que não escondia o sofrimento. Disso não vou falar.
Falo, sim, de ter então sabido que Fernando Rodrigues tinha casa e consultório com frente para o Jardim da Parada. Em Campo de Ourique. Para onde dava também a minha varanda. E, no prédio ao lado do dele, morava o Noales. Que “brinde” para os pides! Um desses criminosos oficiais, instalado num banco do aprazível jardim, podia vigiar, ao mesmo tempo (e decerto por turnos), três portas de entrada de casa de três suspeitos. Ou mais do que suspeitos porque houvera quem se encarregara de dar informações sobre as nossas pessoas à “instituição”. Mas também não é disso que vou falar.
Nalguns momentos de descontracção, raros, o Fernando Rodrigues contava que, nos dias de calor, fazia consultas com as janelas abertas e perguntava como é que lhe era possível ser médico e sério com um vendedor ambulante, desses de grande lábia e altos berros, no jardim abaixo das janelas abertas a fazer propaganda do que vendia, uma pomada milagrosa, persistindo na científica informação que lhe entrava pelo consultório dentro:
O Fernando Rodrigues era “um senhor”. Tisiologista de reconhecidíssima competência, era um homem muito afável, que se via que estava a sofrer, depois do que passara nos interrogatórios, Por muitas razões, até familiares. Dentro de si, um turbilhão sob a aparência calma que não escondia o sofrimento. Disso não vou falar.
Falo, sim, de ter então sabido que Fernando Rodrigues tinha casa e consultório com frente para o Jardim da Parada. Em Campo de Ourique. Para onde dava também a minha varanda. E, no prédio ao lado do dele, morava o Noales. Que “brinde” para os pides! Um desses criminosos oficiais, instalado num banco do aprazível jardim, podia vigiar, ao mesmo tempo (e decerto por turnos), três portas de entrada de casa de três suspeitos. Ou mais do que suspeitos porque houvera quem se encarregara de dar informações sobre as nossas pessoas à “instituição”. Mas também não é disso que vou falar.
Nalguns momentos de descontracção, raros, o Fernando Rodrigues contava que, nos dias de calor, fazia consultas com as janelas abertas e perguntava como é que lhe era possível ser médico e sério com um vendedor ambulante, desses de grande lábia e altos berros, no jardim abaixo das janelas abertas a fazer propaganda do que vendia, uma pomada milagrosa, persistindo na científica informação que lhe entrava pelo consultório dentro:
“O dente não dói porque o dente é osso e o osso não dói; a “engiva” e não dói porque a “engiva” é músculo e o músculo não dói; o que dói é o micróbio… e para o micróbio tenho aqui esta pomadinha milagrosa…”
Com aquela concorrência, o cientista sentia-se perturbado e via-se aflito para fazer, com seriedade, o seu trabalho!
5 comentários:
O vendedor ambulante sabia onde devia fazer "aquela" propaganda...
Pena não haver hoje "pomadinhas milagrosas" para tratar da saúde a alguns tipos que eu conheço...
Boas férias e até à volta.
abreijos
pronto...já comecei a "roubar" as histórias passadas! então e dia 21? para onde mando uma mensagem? hum? :))) casaeulalia@gmail.com
Obrigado pelo desejo de boas férias.
Como todos os anos é por esta altura.
Mas vou tentar manter o contacto... e estudar e essas coisas...
21, Eulalia? Adivinhaste ou alguém te disse?
Desde ja te agradeço... deixa aqui... se te lembrares.
Ja com saudades vossas. No Charles de Gaulle...
Abreijos
21? aha! o livro denuncia... aaaaah...Montmartre! :)bons passeios
existem uns comentários nada agradáveis na DUDH.
bjs
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