faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Certificado de garantia

De duas, uma (ou as duas...):
  • ou nasci cedo de mais
  • ou estou a ir para além do prazo de validade
Em qualquer dos casos (ou nos dois...), resisto.
Como sempre vivi fazendo.
Podem contar comigo
(e lembrem-se do Niemeyer e do Manoel...).

domingo, 9 de dezembro de 2012

Tempo inconvencional

Como há dias com mais de 24 horas (ou menos...),
há meses em que se envelhece anos!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

alerto-ME

  • para o perigo daS lutaS como "terapêutica de substituição" da LUTA
  • para a obsessão da aparência de democracia, através do estabelecimento e cumprimento de "regras" e "critérios" em vez da visceral e quotidiana prática democrática 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

Anotações datadas

Passei por aqui!
Alguém se vai lembrar?

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Sou quadro?
Não! Sou é quadrado
... ou redondo
... ou convexo
... ou concavo
... ou tudo junto
... ou uma misturada informe

... ou, isso sim, sou coisa nenhuma,
que é o que virei a ser,
voltando ao que sempre sou
e, antes de, ao que já (não) fui

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tempo sem enganos


Quando era “o mais novo”
pensava que o seria para sempre,
… que nunca mais acabava…

Mas hoje,
hoje que sou
- em quase todos os lugares… -
“o mais velho”,
sei como o tempo me enganava
(e sei
– embora o quisésse esquecer... –
como o tempo me engana).

Ser “o mais velho”
é tempo que não acaba,
que dura sempre, e sempre mais presente,
até acabar tudo… até à Grande Ausência!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O que o Acordai acordou em mim...

Um dia destes chorei (*).
Estava a ver televisão, a viver uma manifestação e, ao ouver um grupo de manifestantes cantar o Acordai, dei comigo chorar. Disse cá para mim: "Tens de pensar nisto!".
E pensei. Como é sempre de um homem se pôr a pensar para que o mundo pule e avance-
Entre muita coisa pensada, pensei na comovente homenagem que aquele cantar representava para com o Fernando Lopes Graça e o José Gomes Ferreira. E ali encontrei uma das razões das lágrimas que se tinham soltado. Como aqueles dois camaradas (o músico e o poeta militantes) mereciam estar a ser cantados, ali!
Então não é que hoje recebi um mail em que, para se dar força ao que pretendia pôr-me a pensar, vinha lá isto:

IMPROVISO EM SOL MENOR

O Graça quando nasceu
Já lhe cantavam nas veias
Os sons da Terra e do Céu
Com claves e colcheias.

E assim foi que a nossa gente
- eu, tu, ele, nós e vós -
ouviu então finalmente
o sabor da própria Voz.

José Gomes Ferreira
(in Vértice nº 444/1981
- para os 75 anos de Lopes-Graça)

Não. Desta vez não chorei! Mas quase...
______________________________
  (*)
Não é feio um homem chorar,
Ti´Maria!
O que é feio,
Ti'Maria!
É um homem ter vontade de chorar
e não chorar...
Ti'Maria!
por dizerem que é feio um  homem chorar.

domingo, 28 de outubro de 2012

Histórias ante(s)passadas - 43

No regresso do que senti ser,
tardia e irremediavelmente,
o corte definitivo da ligação viva
com o meu passado vivido
escolhi o Requiem, de Mozart
“para este domingo” do anónimo do século xxi,
E juntei a nota de que teria “memória”
- ou histórias ante(s)passadas - em docordel
Aqui, e também nos dias de agora.

Histórias ante(s)passadas – 58 (?)

Não vou “literalizar” a questão, e muito menos como “ficções do cordel”, mas sinto necessidade de transformar o luto duplo que sinto em escrita catártica. Porque não foi bem o corte de uma ligação viva, a última, com o meu passado vivido, mas mais o desfazer de um laço, brutalmente, e sentido ao longo de quilómetros ao volante e de horas em que estive voltado para o mais fundo em mim.
Sucederam-se cenas como num filme a episódios.
O mais antigo, as vistas a uma casa onde a Casimira vivia com uma tia, depois de um nunca esclarecido divórcio (isto nos anos 30!), como que em reclusão, e onde a mãe e os familiares maternos a podiam visitar e onde havia uma janela num andar sobre a Duque d’Ávila, muito alto para mim, habituado a rés-do-chão e a sentir vertigens.
Depois, a vinda da Casimira para a nossa companhia no canto familiar da Rua do Sol ao Rato. Os três primos! A Casimira, a mais velha, rodeada de mistério e silêncios (porque havia coisas de que não se falava), o José Luís, com o pai na Penitenciária, por vício do jogos e desvios de dinheiro (também coisas de que não se falava em frente das crianças), onde eu, o mais novo dos primos, o conheci.
A seguir, o namoro da Casimira com o Agnelo da Trafaria, quando, dizia-se…, de quem ela gostava era do José, e cenas insólitas como o Agnelo, baixinho e todo garboso na sua farda de oficial, a subir a íngreme Rua do Sol para passar debaixo da janela da sua amada a comandar um pelotão, num desvio ao RDM (Regulamento de Disciplina Militar)!
E o casamento. Daqueles de fato de cerimónia, em que para mim se arranjou a solução da “capa e batina” feita no A.Lemos da Rua Augusta, e que veio marcar a minha vida de estudante lisboeta a sonhar com Coimbra.
Do casamento nasceu o António Alberto, que estaria agora nos 60 anos se não tivesse morrido há uns quatro ou cinco anos, de uma morte anunciada e de certo modo antecipada para os pais e, também, para mim. Por isso, quando ontem, no cemitério, me disseram que o António Alberto, além do corte total com todos os laços familiares, morrera de sida, senti estar a fazer um duplo luto.



Esta fotografia tem escrito nas costas, com a letra da Casimira, António Alberto com 3 anos e meio – Restauradores 1955













Tudo foi revivido.
O António Alberto foi o meu primeiro bébé! Andava eu no liceu, no D. João de Castro, no Alto de Santo Amaro, e organizava a minha vida para estar com ele, que quase vira nascer. Com os meus 16/17 anos passei horas a brincar com o TóBé, no encantamento de ver um ser humano ganhar corpo e sentidos e consciência. (O que estou a voltar a viver numa terceira etapa da minha vida).
O miúdo cresceu e sempre o fui acompanhando. Com uma enorme ternura. Retribuída, E lembro a alegria que lhe teria dado quando, no começo da sua adolescência, consegui ir ver o sarau de ginástica na Académica da Amadora, em que ele participou e para que me convidara com alguma insistência..
Depois, adolescente inquieto e com um difícil relacionamento com os pais, uma fuga de casa para uma "aventura" por Espanha, terminada em Barcelona com um regresso atribulado, em que também tive um papel bem difícil. Em que fui uma espécie de mediador, fisicamente no meio dele e do pai a impedir a violência, e com a insólita confissão que ele me fez de que terminara a sua “aventura”… por ter sentido a falta do "champoo"!
E cada um foi fazendo a sua vida. Sempre com a Casimira a dar-me notícias, e a encontrá-lo de vez em quando.
Até que chegou um 25 de Abril. Em 1974. Ele com 20 e poucos anos, eu a chegar aos 40. Tempos em que nos teríamos reencontrado. Em que soube coisas dele, na empresa em que trabalhava e do seu impeto revolucionário. Cruzando-nos e abraçando-nos em manifestações. No meio da alegria e do futuro que procurávamos ajudar, eu um pouco preocupado porque ele queria a revolução-já e eu não tinha nem arte nem tempo para lhe provar que as revoluções não se fazem . Que se fazem sempre. Todos os dias, e mais difíceis são os dias em que se julga que ela está feita.
Ter-se-á perdido, ou terá procurado encontrar-se por outros lados. Por Moçambique e não sei mais por que paragens. Rompendo laços, cortando ligações. Perdi-o!
Soube da sua morte. Quase com indiferença. Até ontem. Até ao acompanhamento da Casimira ao cemitério do Feijó, e ao ter-me sido confirmado, por voz amiga e comovida, que o António Alberto morrera, e como morrera.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

extracto de diário

Mais gente contra o ultrajante


Hoje foi o dia da gente dormente
que passou a gente emergente.

Temos de lutar para que não venha a ser
gente desistente
ou pungente
ou… pingente.

É urgente tornar muita dessa gente
gente de sempre!

15 de Setembro de 2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Com um sorriso (amarelo) na escrita

Uma estórinha de humor muito negro
acerca de uma “branca”
(mas com um sorriso na escrita)

O “amigo” aproximou-se da mesa onde estava sentado à espera de quem quisesse um autógrafo no livro que publicara. Abraçámo-nos com a afectividade aquecida por muitas recordações de lutas comuns ao longo de tantos anos, que digo eu?..., de tantas décadas.

Estende-me o livro recém-comprado: “bota aí uma dedicatória…”.

Entro em pânico, que tento disfarçar com truques já experimentados em situações parecidas ”… é para oferecer?... queres em que nome?”. “Não, não… é para mim… põe em meu nome…”.
O pânico aumenta. Uma “branca” enorme. Do tamanho de um nome que desapareceu da memória ou que se esconde em qualquer lugar dentro de mim. Lentamente, pouso a caneta sobre a página em branco, com um grande esforço para que venha ao de cima o que está num recôndito muito fundo a fazer-me fosquinhas.
Nada!

Meto uma conversa pelo meio… “lembras-te daquela vez em que?...”, “oh!, se me lembro… foi cá uma aventura…”.

O intervalo não chegou para fazer saltar o nome. Mas deu o pretexto para a dedicatória evocativa do vivido e lembrado pelos dois “Para o inesquecível companheiro de…”, assim substituindo o esquecido nome.

Mais um abraço, e ele lá foi (ao que me pareceu) satisfeito com a dedicatória, dando o lugar a quem esperava na fila dos raros que queriam um autógrafo deste autor em pânico.

Ainda lhe via as costas a afastarem-se, e veio-me à memória o nome dele. “Porra!”, pensei eu… e ia pensar mais coisas sobre a idade e os sinais que nos manda aquele sacana do alemão que deu o nome a uma doença (como é raio ele se chama?...), mas recompus-me ao lembrar que estas “brancas” já me aconteciam quando comecei a dar autógrafos nos idos anos… de há décadas.