Uma estórinha de humor muito negro
acerca de uma “branca”
(mas com um sorriso na escrita)
O “amigo” aproximou-se da mesa onde estava sentado à espera de quem quisesse um autógrafo no livro que publicara. Abraçámo-nos com a afectividade aquecida por muitas recordações de lutas comuns ao longo de tantos anos, que digo eu?..., de tantas décadas.
Estende-me o livro recém-comprado: “bota aí uma dedicatória…”.
Entro em pânico, que tento disfarçar com truques já experimentados em situações parecidas ”… é para oferecer?... queres em que nome?”. “Não, não… é para mim… põe em meu nome…”.
O pânico aumenta. Uma “branca” enorme. Do tamanho de um nome que desapareceu da memória ou que se esconde em qualquer lugar dentro de mim. Lentamente, pouso a caneta sobre a página em branco, com um grande esforço para que venha ao de cima o que está num recôndito muito fundo a fazer-me fosquinhas.
Nada!
Meto uma conversa pelo meio… “lembras-te daquela vez em que?...”, “oh!, se me lembro… foi cá uma aventura…”.
O intervalo não chegou para fazer saltar o nome. Mas deu o pretexto para a dedicatória evocativa do vivido e lembrado pelos dois “Para o inesquecível companheiro de…”, assim substituindo o esquecido nome.
Mais um abraço, e ele lá foi (ao que me pareceu) satisfeito com a dedicatória, dando o lugar a quem esperava na fila dos raros que queriam um autógrafo deste autor em pânico.
Ainda lhe via as costas a afastarem-se, e veio-me à memória o nome dele. “Porra!”, pensei eu… e ia pensar mais coisas sobre a idade e os sinais que nos manda aquele sacana do alemão que deu o nome a uma doença (como é raio ele se chama?...), mas recompus-me ao lembrar que estas “brancas” já me aconteciam quando comecei a dar autógrafos nos idos anos… de há décadas.
2 comentários:
Muito bem contado!
Ri, ao ler este natural esquecimento, no meio de centenas de outros tantos nomes.
Já não achei piada, ao mistério dos livros desaparecidos!!!
Em hora de autógrafos...tudo pode acontecer.
Foi um grande fim de tarde.
BJS,
GR
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