Entre as “novidades” com que quase todos os dias a PIDE nos brindava, a chegada do Orlando Carvalho e do Seabra Diniz foi das mais curiosas. Se o Seabra Diniz nos pôs a fazer exercícios de descontracção e a sentir pesado o que pesado estava, o Orlando Carvalho veio aligeirar a nossa vida de encarcerados.
Era um homem alto, de grande presença e alguma pose, que veio a morrer em 1966, de desastre de automóvel, e já fui, em liberdade, ao Alto de S. João, ao seu enterro.
Impressionaram-nos os seus pijamas de seda que pouco tinham a ver com a sala do Aljube que a todos nos albergava, e o modo como se vestia num movimento quase ballético para não beliscar os impecáveis vincos das calças.
A sua clientela era “do fino”, sobretudo damas, esposas de ministros e também de outros dignitários como indignos dirigentes da instituição que nos prendia a torturava. Donas que até exigiam consultas ali numa sala da cadeia. As suas doençazinhas podiam lá esperar que o dr. Orlando resolvesse os seus problemas com os respectivos maridos… Umas coisitas relacionadas com uns dinheiros e outras ajudas à resistência, ao Partido Comunista e às “vítimas do fascismo”.
Foi imediatamente desarranchado e as suas refeições passaram a vir de uma casa "chique”, julgo que da Benard. Era cada banquete!...
Era um homem alto, de grande presença e alguma pose, que veio a morrer em 1966, de desastre de automóvel, e já fui, em liberdade, ao Alto de S. João, ao seu enterro.
Impressionaram-nos os seus pijamas de seda que pouco tinham a ver com a sala do Aljube que a todos nos albergava, e o modo como se vestia num movimento quase ballético para não beliscar os impecáveis vincos das calças.
A sua clientela era “do fino”, sobretudo damas, esposas de ministros e também de outros dignitários como indignos dirigentes da instituição que nos prendia a torturava. Donas que até exigiam consultas ali numa sala da cadeia. As suas doençazinhas podiam lá esperar que o dr. Orlando resolvesse os seus problemas com os respectivos maridos… Umas coisitas relacionadas com uns dinheiros e outras ajudas à resistência, ao Partido Comunista e às “vítimas do fascismo”.
Foi imediatamente desarranchado e as suas refeições passaram a vir de uma casa "chique”, julgo que da Benard. Era cada banquete!...

Mas hilariante foi o caso de, estando o Orlando numa das suas consultas, o guarda nos ter entregue um almoço que, além do vinho e da requintada sobremesa, foi decidido que seria, após minuciosa observação, de lampreia. O que levou alguns ao delírio gastronómico. Estreia absoluta de lampreia e logo de baptizada “lampreia à Aljube”.
Afinal… viemos a saber, no dia seguinte, que tínhamos comido “arroz de cabidela”, de galinha, claro! Apenas. E se estava bom!... a saber a lampreia.
5 comentários:
O que pode fzer a imaginação...
Até me está aqui a cheirar a arroz de cabidela:))
Bela estória
:))
A esta hora marchava, um ou outro...
De cabidela será mais fácil, já que o outro só lá para Janeiro...
Venham mais estórias!
Venham elas.
Campanica
Há pelo menos uma dúzia no "estaleiro"...
Estas "história" merecem sair em livro.
Para quando?
GR
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