faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Histórias ante(s)passadas (na prisão) - 3A

Mas não foi só o Seabra Diniz e o Orlando de Carvalho. Outros nomes muito ilustres passaram pela sala “enfermaria geral” do último andar do Aljube. Alguns que, hoje, talvez nem queiram que se saiba que lá estiveram…
Mas há um nome ilustre, histórico, que por lá passou e merece referência, queira ele ou não.
Um dia, estávamos nós, os que já lá estavam, a preencher o tempo quando a porta se abriu e, naquele vaivém a que nos íamos habituando, um guarda e o servente Martins introduziram na sala um homem alto, assaranpatado e de aspecto modesto mas bem parecido (pelo menos é assim que me lembro dele, porque nunca mais o vi ou alguma coisa soube dele… e já lá vão mais de 45 anos!).
Deu-se logo aquele movimento ondulatório de alguns de nós, qual comissão de recepção, para junto do noviço – cá por coisas que noutros locais e oportunidades se explicam –, e ele começou a contar a sua história: era da Cova da Piedade, tinha um filho que “andava nessas coisas da política”, e a PIDE fora lá a casa buscar o rapaz e, como não o encontrara – parece que fugira a tempo –, trouxera-o a ele, ao pai…
Mas como, mas porquê? De tanta história que íamos ouvindo, aquela era talvez a mais estranha… trazerem o pai por não terem encontrado o filho?!
É que temos o mesmo nome, disse ele. Chamamo-nos os dois Carlos Darwin!
E assim tivemos na sala “enfermaria geral” do Aljube, e durante uns dias, o senhor Carlos Darwin!
Que honra… e que maior seria se a PIDE não tivesse encontrado, também, o pai do mais novo (pelo menos então) Carlos Darwin, e tivesse a PIDE ido por aí fora, no recuo dos anos e dos séculos, até encontrar o mais velho e verdadeiramente Charles (Carlos) Darwin, que teria vindo, decerto, muito animar os tempos de (in)formação cultural que estávamos a procurar criar naquela sala.

1 comentário:

Maria disse...

Podia ser que o Darwin se inspirasse e escrevesse qualquer coisa sobre o Aljube...
:)