espreitad'eus

aqueloutro homem que eu espreito a espreitar-me naquele espelho onde me queria ver sou ainda eu?

Um texto antigo, esquecido e recuperado

CADEIRAS ENTRE 2 TABULEIROS

As cadeiras, assentes em duas das suas quatro pernas, acabrunhadas sobre as mesas e sem terem quem nelas se (as)sentasse, puseram-se a conversar. Para passar o tempo…

Até que uma, ao espreitar ao redor, o chão e a parede mosaicados em quadrados pretos e brancos, teve uma ideia “… e se nós aproveitássemos a folga e as quadrículas, e fossemos jogar uma xadrezada?”; vai daí, outra disse “boa ideia!… mas essa coisa do xadrez é muito complicada … talvez às damas…”; logo uma mais rabitesa veio de pronto resmungar “… ao xadrez, às damas!… cadeiras a jogar, a imitarem quem nelas s’assenta!, onde é que já se viu?, só de cadeiras tontas…”.

Nenhuma lhe ligou, embora a da ideia tivesse ficado um bocadinho sentida (cadeira que não se sente não é filha de boa gente, n’é verdade?…), e começaram a organizar um torneio. A formar equipas e, curioso…, todas queriam ser do Boavista por ser axadrezado.

No entanto… no entanto, antes de iniciarem o torneio, ainda houve uma cadeira que se levantou do assento e colocou uma questão pertinente: “jogamos no chão ou na parede?”.

Ficaram perturbadas. Ao chão não chegavam por causa das pernas altas, na parede, o tabuleiro ficaria torto e até as rodelinhas brancas e pretas que podiam fazer de conta que eram damas escorregariam… quanto mais com reis e rainhas, e bispos, e torres, e cavalos, e os peões, todos aos saltos e a comerem-se uns aos outros.

Ainda tentaram – só com as damas… – mas foi uma confusão ao quadrado, isto é, aos quadradinhos. Ensarilharam as pernas todas, as de umas nas de outras, e ficaram num monte. À molhada, como se costuma dizer. Mas quem disse a última palavra foi a rabitesa resmungona que disse “… eu não vos disse, suas cadeiras tontas?!”

Zambujal

nada, tudo, pouco e mais à moda de malmequer(o)

comigo, quando nasci, não nasceu NADA
comigo, quando morrer, não morrerá TUDO
... entretanto,
enquanto viver
- entre NADA, TUDO e tantos -,
sou, e terei sido, POUCO

frustre por convicto de poder ser MAIS

Dos que nasceram no "meu tempo"

Uns nem deram os primeiros passos
outros começaram a andar
alguns meteram-se a caminho

Destes,
uns desistiram no difícil caminhar,
outros demitiram-se ou meteram-se por atalhos
alguns teimaram e continuam,
a par e passo

Eu?
sempre quis estar com estes,
tropeçando (sem nunca cair),
levantando-me (se preciso fosse),

ombro com ombro, braço dado,
cabeças levantadas, vozes ao alto
rumo certo e passo acertado.

Em tudo e em todas!
Porquê, então, em nada fiquei?
Não que tenha estado para ficar,
mas sim para ESTAR e SER!
FUI, mas parece que não estive...

procurando desencurralar-me

Uma “curralada”:

coloco-me fora de mim

            (como o outro que quero ser)

a procurar ver como os outros me vêem

Dias úteis e anos in úteis

Útil idade dos dias
a contra pôr
à inútil idade dos anos

EUquações

EU = a eu E tu-outros
... o que é muito diferente de
EU = a EU + TU + Tu + tu + tu + tu + ... os outros

Barbara-Brel

Para este domingo

Num dos regressos a/do nicky (o outro)

Referência

2018-01-24

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Ao Marcelo. Na miséria álacre em que existem - e em que não pouco consentem existir -, os gentios rogam-lhe: afecta-me mais um bocadinho, vai. Como se cantassem tout va très bien, madame la Marquise. Ou o caralho. Nicky Florentino.