Era o ano de 1972
Naquele pequeno gabinete, anexo à redacção do Diário de Lisboa, havia três secretárias e éramos três os seus ocupantes. A Isabel, com a tarefa das traduções das agências estrangeiras, particularmente de coisas da cultura, da literatura, o Zé, com a principal e quotidiana função de escrever as opiniões que o DL tinha, as “notas do dia, e o terceiro era eu, encarregado da área da economia, sobretudo do suplemento semanal.
O ambiente era excelente, solidário, de calma boa disposição e
entre-ajuda. Que extravasava daquele gabinete e transportávamos para as nossas
vidas “lá de fora”.
De vez em quando, no desempenho das tarefas, trocávamos
opiniões e até trechos. Mais de uma “opinião” do DL, na altura das negociações
para o acordo comercial com a CEE, por exemplo, teve contributo meu. O que
fartamente se compensava com opiniões (da Isabel e do Zé) sobre a minha escrita,
que não lhes desagradava, de que elogiavam a facilidade e a espontaneidade… mas
a que (sentia-o eu) achavam que faltava… “qualquer coisa”.
O que não foi o caso de uma crónica que escrevi para o Récord,
onde colaborava com uma crónica semanal – às 5ªs… feira –, em que eu
dizia da minha sensação de irreversibilidade da passagem do tempo e me queixava
do avançar da idade (aos 36 anos!) que me ia enterrando sonhos, como o de subir
o túnel que ligava os balneários ao relvado do Estádio Nacional para,
envergando a camisolas das quinas, ouvir o “heróis do mar, nobre povo…”.
O Zé riu-se (no que não era pródigo) com gosto e gozo, fez
rasgado elogio (no que era avaro) à qualidade literária da crónica… e passámos
a outras coisas.
Nunca esqueci esse episódio, e bem longe estava eu (e ele)
que aquela avaliação de um escrito meu tinha a chancela de um futuro Prémio Nobel
da Literatura.
Hesito em incluí-la no meu currículo…
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