faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 30 de julho de 2019

O táxi e o GPS, em Lisboa

Ela e ele deixaram o carro estacionado perto do apartamento na Venda Nova e, cansados da viagem e um pouco atrasados, pouparam-se da caminhada até o metro e procuraram um táxi que passasse. Só o encontraram, parado e livre, na praça que de táxis é, já depois das Portas de Benfica.
Ele, cavalheiro que se preza nestas coisas de entradas e saídas, abriu a porta para Ela se acomodar e, quando conseguiu meter lá dentro o corpo todo (o que já foi mais fácil em tempos idos) e deu as urbanas salvações ao taxista (não correspondidas, aliás), já estavam os dois comunicando entre si sobre o destino da chamada corrida.
"Bento  da Rocha... quê?, Cabral?...", "... isso...", "... ora deixe cá ver...", quando se meteu na história um 4º personagem chamado GPS ... 4º personagem?, não!, porque os protagonistas ficaram reduzidos a 3 uma vez que Ele desistiu de tentar dizer que conhecia bem a tal rua, que é calçada à ilharga da sede do PS, no Rato, redondezas que conhece bem pois  morou na Rua do Sol (também do ou ao) Rato, de 1939 (!) até... não interessa quando... uma vida; deixou os três entenderem-se, esclarecerem as dúvidas (que eram muitas), os itinerários para que cada um de dois dava palpites enquanto o introduzido 4º (promovido o 3º) se ia adaptando e apontava setas, sem aparentar melindre por não lhe seguirem as indicações anteriores.
Ele aninhou-se no cantinho direito do banco de trás do carro, e fez-se espectador distanciado.
Quando desciam a Rua D. João V, antes de entrarem no Largo do Rato, saiu do seu anónimo e silencioso recolhimento e disse, peremptório, firme mas sem acrimónia: "Pare aí, por favor!", pagou e saíram os dois iniciais deste contar, viraram à esquerda (a pé e de mão-dada), caminharam serenos passando em frente da tal sede do dito Partido Socialista (que não o é), contornaram-no na primeira calçada à esquerda. E estavam na Calçada Bento da Rocha Cabral.

Fim de história (o taxista deve ter ficado a trocar impressões com o GPS sobre o trânsito de Lisboa e o melhor percurso das Portas de Benfica ao Largo do Rato) 

1 comentário:

Justine disse...

Escrita a história com o teu habitual sentido de humor, sorrio e relembro a aventura!