Hesito, ergo existo. Olho lá
para fora e não chove nem faz sol e, aqui ao lado, ela dedica-se às palavras cruzadas
do avante! e protesta perante as
gralhas (noutras horas do dia é face às do Jornal
de Letras), depois da última etapa do seu pequeno-almoço que, de tão lauto,
pequeno é que não é.
Hesito entre o voltar para a cama como me pede o corpo, ou começar pelo
tratamento pingado nos olhos que pingam, ou tomar os “pózes” em copo cheio de
água em preparação para a colonoscopia, ou banquetear-me com o meu pequeno-almoço
que, de tão pequeno, nem de almoço merecia ter o nome após o hífen.
Hesito. Não me mexo de onde estou, e não tenho que me sói dizer porque calo
(ou surdino) as queixas que são minhas e não comento aquelas suas com que ela
se antecipou, isto depois – ou pelo meio – de alguns trocos sobre coisas várias
e a bela crónica lisboeta do Chico Mota dedicada ao Zé Pires, que não foi
obituário porque de 2004 mas como que antecipada homenagem ao amigo que trazia
a morte (ou o medo dela) consigo.
Hesito. Ainda esboço levantar-me de onde vejo os verdes ainda húmidos e
cinzentos para ir mudar de roupa, mas para quê se, daqui a pouco, quando for
hora de sesta, vou dar uso ao pijama que agora me convida à redeita imediata. Fico-me
pelo esboço ou intenção de acção. Deixo-me ficar assim… pelo menos mais um
bocadinho.
Hesito. Mas… tenho de me decidir porque o relógio não pára de medir e de
me dizer o tempo que passa por muito que eu o queira quieto. Como me apetece
estar.
Reajo. Avanço, decidido – é como quem diz… – para as coisas a fazer, que
inadiáveis são e adiadas estão. Pela hesitação.
Por ordem: copázio de água com “pózes”, duas pequeninas torradas com chá
açucarado, esta crónica de um amanhecer hesitante.
Aqui está ela.
Vamos ao dia que a manhã vai alta! Ainda de pijama… e pingos nos olhos.
Comecemos pelos mails e pelos blogs.
1 comentário:
Uma delícia, a tua hesitação. Ou o relato dela. Ou de como se faz literatura com o quotidiano banal. banal??
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