faz de conta que o que é, é!... avança o peão de rei.

...
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.

José Gomes Ferreira

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Assim vão as coisas...

Artigo que mandei para o jornal da minha terra e que acho que, como prosa, me não me saiu mal:
Assim vão as coisas…

… e, por assim irem as coisas, há quem desista, há quem desespere, há quem procure “soluções”, há quem nem saiba que fazer…

Mas, por assim irem as coisas, o que me parece que há a fazer é redobrar os esforços para tentar perceber porque é que vão assim as coisas. E, consequentemente, ou coerentemente, procurar contribuir para que as coisas assim não vão.

Pelo meu lado, tento. Mas, confesso que, muitas vezes, me tenho de lembrar do poeta. Daquele que terminou o seu poema gritando (mais ou menos…) que a raiva cresce e a esperança se multiplica.

Então não é que andei, com mais umas centenas ou milhares de gente que pensa como eu ou próximo do que penso, a estudar o País, a fazer trabalhos, a juntar e a procurar tornar consistentes dados e conceitos (dos ditos operativos), fizemos o que as regras (as nossas, por nós adoptadas) mandam, juntámo-nos todos numa grande sala, éramos quase dois mil, tínhamos convidados (muitos, embora nem todos os convidados tenham ido, saibam lá eles porquê…), e tínhamos também os que, muitos!, não sendo nem delegados nem convidados, estavam lá porque queriam estar e participar, assistindo e ouvindo e aprendendo, e chegámos a uma proclamação e a uma decisão (nossa, mas decisão a todos endereçada)… e não é que nada ou pouco nos ligaram?!

Estarão no seu, deles, direito, no direito de não nos ligarem a nós, a nós que somos o que somos. Mas eu fico assim. Fico aborrecido, para não dizer pior! E procuro romper os muros do silêncio. O que nem me é muito difícil porque, ao longo da vida, muitas vezes me vi obrigado a este exercício.

E, por isso, venho juntar-me a outros como eu, ou de mim próximos, que acharam estranho, mais: escandaloso, que no mesmo jornal, um jornal de referência, como se costuma dizer, um jornal público, no dia seguinte a todo o trabalho que tivemos, de meses, e de gentes, e de estudo, e de reuniões, e de proposta, e de discussão, e de proclamação, tivesse dedicado pouco mais de uma meia centena de linhas ao discurso de encerramento feito pelo nosso secretário-geral, enquanto que, repito, na mesma edição do mesmo jornal, quase uma centena de linhas fosse preenchida com a referência e as citações que um outro líder partidário proferiu, por tal sinal de um partido com menos votos que o que chamo nosso porque meu é, num jantar para comemorar uma data. Não está bem… ou talvez esteja, lá a critério deles.

Fiquei bera, pronto. Achei injusto. Não para mim, não para nós, mas para quem não é informado como tinha o direito a sê-lo. E que se fica. Assim…

E não resisto a deixar um parágrafo do que tive a oportunidade de dizer lá no tal encontro final de todo o nosso trabalho, que durou dois dias, sobre umas coisas chamadas produtividade e competitividade:

“…o mesmo número de horas de trabalho, com a mesma intensidade de trabalho, produz diferente valor acrescentado num outro contexto, quer de meio ambiente ou infra-estruturas, quer de organização do processo de trabalho, quer em outras condições materiais e financeiras exógenas ao processo produtivo. Por exemplo, em termos de “economia de mercado”, o diferencial entre os valores acrescentados por Manueis e Marias com as mesmas horas de trabalho em França e em Portugal, mostra que o produto desse tempo de trabalho é mais competitivo em França do que em Portugal, ainda que os salários em França sejam substancialmente mais elevados. De onde se concluiria que os mesmos Manueis e Marias têm maior produtividade em França, apesar dos salários serem mais elevados que em Portugal. Porque as outras determinantes são… outras! (…)”

Só tinha 7 minutos (havia muito mais gente que queria falar e dizer destas e doutras coisas, sobre questões económicas e sociais), mas fiquei satisfeito por as ter dito, depois de muito as ter estudado e pensado. E não me venham dizer que isto são… rabujices da idade de quem quer andar a dizer coisas. Estavam muitos mas muitos, mas mesmo muitos, muito mais novos que eu.

Será por isso que não querem que se saiba?!

5 comentários:

Anónimo disse...

Não sei porquê, mas tenho cá a impressão de que não te vão publicar este artigo...

Maria disse...

Eu espantava-me era se tivessem dedicado 15 minutos à conferência, como fez o jornal das 19.00 de hoje na SIC Notícias por causa de uma deputada ex-PCP e feito um directo com a mesma neste caso vereadora nos paços do concelho de Santarém...
Aí é que eu me espantava....

Mazdak disse...

Também, mas principalmente na minha opinião, o PCP é e será sempre o alvo a abater, pois, o PCP é e será sempre a maior força de bloqueio a esta escalada do capitalismo, lutando, resistindo, sempre, mas sempre em prol dos trabalhadores… e quando algum dia nos deram algum tipo de protagonismo em qualquer órgão de comunicação social, há que estar atento, algo se passa…

hasta...camarada

Mazdak disse...

P.s: um dia com tempo conto-te a história dos lobos.

1 abraço

GR disse...

Tanta injustiça, maldade.
Continuam a ter medo de nós, sabem que somos os únicos que lutamos, combatemos com a mesma determinação de Sempre e já lá vão 86 anos!

Nos 7 minutos fez-se um grande silêncio, para te escutar!
A Juventude atenta vibrou e os aplausos pareciam foguetes em dia de Festa!
Podem ocultar, enraivecidos não quererem mostrar, mas nós estávamos lá e vimos!

GR